“Greenlash”: Uma Velha Ameaça de Roupa Nova e Turbinada
*Fernando Barros
Há 60 anos, das escadarias do “Lincoln Memorial”, Martin Luther Kingcontou ao mundo que tinha um sonho. O Brasil de entãoera ameaçado pelo espectro da fome - eimportava dos países ricos 30% dos alimentos de que precisava. Nem sonhava com a autossuficiência alimentar - a criação do Agro Tecnológico Tropical, só ocorreria na década seguinte.Hoje, o sonho tem sigla: ESG, literalmente “Meio Ambiente, Social e Governança”, que se transformou indiscutivelmente na peça de resistência no banquete do debate global.
É a meta a ser perseguida, um objetivo obrigatório largamente defendido, mas pouco implementado. O mundo passou mais tempo discutindo, debatendo problemas, do que atuando para materializar soluções.
Depois de liderar a revolução dos anos 1970, Alysson Paolinellireiniciou sua máquina de fazer sonhar. Acreditava que o o Agro Tecnológico Sustentável do Brasilpoderia ser o ponto de partida no enfrentamento dos principais desafios globais: fome, desigualdade social, mudanças climáticas.
Há 6 anos, abraçou outra etapa do mesmo desafio: não bastava mais falar, seria preciso demonstrar, provar e comunicar as potencialidades do País, a sua capacidade de liderar os nexos da Água, da Energia e do Alimento nas próximas décadas.
Eis uma breve história do“Polo Demonstrativo do Desenvolvimento da Bioeconomia Sustentável, Inclusiva e Saudável de Rondônia”, cuja semente foi lançada pessoalmente por Paolinelli, em Porto Velho, em dezembro de 2021. Em sua essência, trata-se de um projeto de extensão, focado na democratização de conhecimentos já existentes, obviamente referenciados em Ciência.
O Polo é tambémum laboratório operacional aberto, inspirado nos conceitos ESG, voltado para a aterrissagem de tecnologiassustentáveis no território da vida real e na missão defazê-las funcionar...
Esse sonho só está acontecendo porque inúmeras instituições de peso e dezenas de pesquisadores, gestores e comunicadores foram contagiados pelo encantamento da flauta mágica de Alysson Paolinelli. O esforço colaborativo foi impulsionado também pelo tempestuoso acirramento dos fenômenos climáticos e das desigualdades sociais.
É capital começar a transformação já, usando ferramentas ao nosso alcance.Começar pequeno não importa. Com o modelo implantado e produzindo resultados a escalagem – em tempos de inteligência artificial – é célere.
A Rede do Conhecimento do Fórum do Futuro canaliza essa energia positiva. A cada dia um novo apoio, uma nova sinergia. De alguma forma, parceiros quevêm perseguindo a mesma agenda há vários anos, percebem que, unidos num mesmo projeto, podemos avançar mais rápido e de forma mais consistente.
As apostas em jogo agora são muito altas. São centenas de milhões pessoas envolvidas em cadeiasprodutivas impactadas pelas mudanças climáticas. A regulação mais rígida do mercado de capitais (em particular dos fundos de investimentos) com relação às repercussões socioambientais da ação das corporações e dos atores trouxe riscos e cenários de incerteza jamais vistos.
Surge, assim, um espetacular ambiente de convergências...
A agenda central do Banco Mundial é mitigar a pobreza via geração de empregos dignos, inclusão social e tecnológica dos excluídos do processo de desenvolvimento econômico, social e ambiental. Para a FAO, a missão principal é debelar a fome, que hoje vitima perto de 1 bilhão de pessoas em todo o globo. Para a comunidade científica de Rondônia (Embrapa, UNIR e IFRO) o Polo remete a colocar a mão na massa para erguer o próprio futuro.
Para o SICOOB-RO, os produtores rurais, empresários e atores econômicos diversos de Rondônia, a demanda é atestar que a agropecuária na Amazônia é plenamente compatível com expectativas fundamentais da governança ESG. E vai além: a regularização das atividades produtivas associada ao pagamento por serviços ambientais prestados pelos produtores pode ser a grande alavanca que viabiliza a convivência entre os anseios civilizatórios de preservação da floresta eo despertar simultâneo um novo ciclo virtuoso de expansão econômica alicerçado em produtos de base biológica..
Para a Embrapa nacional, uma oportunidade de consagrar e institucionalizar como politicapública o modelo de transferência de tecnologia criado a partir da “Comunicação Estratégica” para o bem sucedido projeto “Balde Cheio”. E também a chance de implementar o primeiro Polo Digital amplo senso envolvendo toda a população abrangida.
Outros entendimentos estão ainda em construção, mas nem por isso são menos auspiciosos. Para a UNESCO, os objetivos estratégicos da humanidade passam pela capacidade de organização e de sistematização “sociedades do conhecimento”. Para a Secretaria de Economia Verde, do MIDC, otimizar a visão aplicada de Bioeconomia é a grande ferramenta da descarbonização. Para o MAPA, a validação da agricultura tropical tecnológica é a pauta estratégica maior.
Cada um dos signatários do “Plano Mínimo de Trabalho” do Polo de Rondônia a ser autenticado pelo Banco Mundial tem expectativas bem definidas. É da essência desse verdadeiro “movimento” que todas essas demandas sejam efetivamente levadas em conta e devidamente financiadas.São indispensáveis as contribuições dos professores envolvidosna racionalização do uso da Água; na proposta que leva a visão científica para o ensino básico; na recuperação de áreas degradadas para fins de regularização ambiental; na análise de impacto da Inteligência Artificial sobre as atividades da Bioeconomia.
O Projeto só faz sentido pelo conjunto da obra. Os primeiros beneficiários serão os habitantes do Polo, cujo apoio crítico saberá responder a propostas concretas, mensuráveis, objetivas e transparentes. Estas carregam inigualável oportunidade de pertencimento dos cidadãos de Cacoal, Pimenta e Espigão aos projetos brasileiro e global de sociedade.
GREENLASH, MAIS UMA AGENDA DESAFIADORA
A expressão composta associa, em inglês. a agenda “verde” com a reação negacionista (“backlash”), esta última cada vez mais organizada e efetiva. É claro que esse conflito será administrado pela política, mas trabalhamos com a certeza de que a concretude dos exemplos de processos e sistemas a serem erguidos no Polo Demonstrativo vai muito além da indução de boas práticas. É um fato técnico-cientifico incontornável, capaz de irrigar positivamente o debate político na sociedade.
O “Portal do Acionista” (https://acionista.com.br/porque-o-greenlash-e-a-nova-ameaca-que-desafia-o-esg/ ), Plataforma que oferece serviços para investidores do mercado financeiro, reuniu um precioso material sobre o assunto, que publicamosparcialmente aqui:
“O Greenlash pode se manifestar de várias formas: Oposição a políticas ambientais; Críticas a empresas sustentáveis; Controvérsias em relação a tecnologias verdes; Conflitos entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico; Ceticismo em relação às mudanças climáticas. E também pode afetar o ESG das seguintes maneiras:
1. Desafios de Implementação: O Greenlashpode criar desafios para a implementação de iniciativas ESG. Quando empresas, investidores ou governos buscam adotar práticas sustentáveis, podem encontrar resistência de partes da sociedade que questionam a eficácia, os custos ou os impactos dessas ações.
2. Pressão Pública e Reputação: Reações negativas podem afetar a reputação de empresas e instituições. O Greenlash pode levar a boicotes, críticas nas mídias sociais e outros tipos de pressão pública, impactando a imagem da organização e sua capacidade de atrair investidores ou clientes preocupados com as questões ESG.
3. Transparência e Comunicação: Empresas e organizações que enfrentam o Greenlash precisam comunicar de forma transparente suas intenções e ações relacionadas ao ESG. Uma comunicação eficaz pode ajudar a dissipar equívocos, abordar preocupações e construir confiança com os stakeholders.
4. Desenvolvimento de Soluções Mais Sustentáveis: O Greenlash pode servir como um impulso para o desenvolvimento de soluções mais robustas e fundamentadas em relação às questões ESG.
5. Mudanças de Comportamento do Consumidor: O Greenlash pode influenciar o comportamento dos consumidores, levando-os a escolher produtos e serviços com base em critérios ESG.
6. Diálogo e Colaboração: Enfrentar o Gree
nlash pode exigir um diálogo construtivo e colaboração entre empresas, governos, organizações da sociedade civil e outros stakeholders. Isso pode levar a soluções mais equilibradas e sustentáveis.
O Greenlashsofre influência da cultura, política, economia, tecnologia, entre outros. Encontra mais aderência em locais onde as questões de sustentabilidade e ambientais são controversas, ou onde as mudanças propostas têm impacto significativo na economia e sociedade. É um movimento reativo a mudança que afeta setores e locais”.
Sem sombra de nenhuma dúvida, a Amazônia é umprato cheio para o “Greenlash”. E Polo Demonstrativo de Rondônia a resposta possível e necessária.
*Fernando Barros – Diretor Executivo do Instituto Fórum do Futuro
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